Friday, June 28, 2013

Bon Jovi, 2013-06-27 - BLITZ, BJ ao vivo Parque da Bela Vista, Lisboa: leia a reportagem e veja as fotos (in portuguese)

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Bon Jovi ao vivo no Parque da Bela Vista, em Lisboa: leia a reportagem e veja as fotos

Mar de gente (mas menos do que em 2011) no regresso da banda norte-americana ao mesmo local onde atuou há quase dois anos. Os êxitos (quase) todos num concerto certinho, mas longe de brilhante.


Quando, em 2011, os Bon Jovi se apresentaram neste mesmo espaço num concerto que encerrou a digressão daquele ano, a banda de Nova Jérsia parecia preparar-se para um hiato. Dois anos depois, o Parque da Bela Vista volta a receber uma multidão para - com álbum novo e uma saída turbulenta do guitarrista Richie Sambora pelo meio - recordar mais ou menos as mesmas canções daquela noite de verão.

A afluência de público é tão surpreendente quanto o pouco tempo passado por esse mega-concerto de há dois anos, altura em que a crise económica ainda não tinha ganho os contornos de negrume dos tempos mais recentes. Com bilhetes a começar nos 59 euros, poderia esperar-se maior contenção no momento de ir ao bolso - ou até, algum boicote por a "amnistia" espanhola não se repetir em Portugal (no concerto de Madrid, Jon Bon Jovi abdicou do cachê em virtude das dificuldades económicas por que passam os cidadãos do país vizinho). Mas não: números oficiais ainda não nos chegaram às mãos, mas apostamos que por esta área verde da zona oriental de Lisboa terá passado o mesmo número de pessoas de um bom dia de bilheteira do Rock In Rio.

Se a disponibilidade e a devoção do fã não sairão daqui beliscadas, o espetáculo que a banda norte-americana trouxe a Lisboa não é, convenhamos, nada do outro mundo. A celebrar 30 anos de carreira, os Bon Jovi têm como cartão de vista mais recente What About Now, um álbum não propriamente excitante (sê-lo-á algum editado pelo grupo no terceiro milénio?) e deixam que se marque falta ao guitarrista Richie Sambora, artífice do som característico de guitarra da banda que Phil X, o substituto, emula competentemente (a bem da verdade).

Se do futebolista esforçado, mas sem brilho ou qualquer toque de génio, se dirá que foi cumpridor ou competente (para enaltecer apenas os aspetos positivos), ao concerto desta noite - a sermos simpáticos - poderá aplicar-se o epíteto "profissional", bem a jeito para designar duas horas sem contratempos mas sem rasgos que fiquem na memória.

Não haja dúvidas que os Bon Jovi têm a lição estudada para que, à saída, a satisfação do fã seja garantida. Aliás, a mesma atenção é reservada para a recepção, com uma dupla infalível de Slippery When Wet, de 1986, logo depois do proverbial tema novo (no caso, "That's What The Water Made Me"): falamos de "You Give Love A Bad Name" (vozes ao alto, preces bem atendidas) e "Raise Your Hands" (braços no ar, claro, sicronizados com o refrão).

Mais adiante, a euforia é reincidente em "Runaway" (primeiro single do grupo, lançado em 1983), "It's My Life" (ponta de lança de Crush, de 2000) e "Keep The Faith" (do álbum homónimo, de 1992, que cimentou os Bon Jovi como sobreviventes da razia grunge). Mas o desfilar de "pontos mortos" foi por demais evidente: "We Got It Goin' On" e "Lost Highway" (do álbum com o mesmo nome, de 2007), "The Radio Saved My Life Tonight" (da caixa retrospetiva de 2004), "Because We Can" (do novo álbum) arrefeceram uma "hot summer night" (palavras de Jon) e deixaram tempo para que toda a gente tirasse as fotografias da praxe aos amigos, às amigas ou a um palco mais ou menos longínquo onde a banda "da casa" demorava em atirar-se aos clássicos.

Dizíamos que a lição estava estudada e não foi, decerto, por acaso que à medida que o epílogo se aproximava, os êxitos para celebração coletiva foram sendo vertidos mais generosamente (ainda que com aquele empenho "profissional" que faz com que não se distinga um concerto em Lisboa de outro em Praga, salvo um tímido e solitário "obrigado" por parte do líder da banda). Antes do encore, "I'll Sleep When I'm Dead", "Into These Arms" (desse berço de hits chamado Keep The Faith e uma versão de "Rockin' All Over The World" (canção de 1975, de John Fogerty), abriram caminho a "Bad Medicine" (única visita a New Jersey, de 1988).

Para o fim, um piscar de olho a The Circle (2009) via "Love's The Only Rule" e a Have a Nice Day (2005), o álbum de capa inexplicável, através do tema que lhe dá o nome. E um regresso compreensível (porque triunfante) ao marcante LP de 1986 com o tempero "western" de "Wanted Dead Or Alive" e o rock opulento, pomposo e invencível de "Livin' On a Prayer".

Como conclusão, pode dizer-se o óbvio: que o repertório da última dúzia de anos de Bon Jovi não tem tanto impacto na multidão como o património mais antigo, mas sem desmerecer uma banda nitidamente bem rodada (Jon Bon Jovi enxuto e sempre disponível para o menear de anca; Tico Torres imperturbável atrás da bateria; David Bryan igualmente competente nos coros - veja-se "Captain Crash & the Beauty Queen From Mars" - como nos teclados - conferir o solo à Jon Lord, dos Deep Purple, em "Keep The Faith), houve também um piloto automático bem disfarçado pela reacção colossal aos êxitos de sempre, aqueles que só um desastre absoluto poderia macular.

Texto: Luís Guerra
Fotos: Rita Carmo/Espanta Espíritos

Notícia escrita por LG Quinta, 27 de Junho às 1:12

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