Saturday, February 18, 2012

Simple Minds, 2012-02-18 - BLITZ, Simple Minds ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa (in portuguese)

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Simple Minds ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa [texto + fotogaleria] -

Simple Minds ao vivo no Coliseu dos Recreios, Lisboa [texto + fotogaleria]


Banda de Jim Kerr trouxe a Lisboa 25 canções dos seus 5 primeiros discos, todos eles anteriores ao sucesso mais pronunciado. Êxitos radiofónicos, nem vê-los - mas também não fizeram falta.

Quando, em 1985, os vimos (pela televisão) no palco do Estádio de Wembley, em Londres, os Simple Minds estavam em plena era de super-estrelato pop. Em direto para boa parte do mundo, Jim Kerr e companhia pareciam imbatíveis, fazendo ecoar "Don't You Forget About Me" por toda a extensão do estádio nacional britânico (e Portugal, à época, não estava imune ao "contágio"). Por esta altura, o grupo formado em 1978 na Escócia tinha já sete álbuns gravados e uma ascensão sustentada, típica dos tempos em que a indústria musical era paciente (entenda-se próspera).

A imbatibilidade de Kerr e comparsas durou o resto da década de 80, mas a míngua de sucessos (e a simples mudança de moda) tornou os Simple Minds obsoletos durante a década seguinte, não seguindo a banda de Glasgow os passos de reinvenção de outros figurões feitos nos anos 80 como os Depeche Mode ou os U2. Desde então, falar de Simple Minds é entrar na conversa da saudade e, sobretudo, das saudades da supracitada "Don't You Forget About Me" e da irmã-gémea "Alive and Kicking".

Seria de esperar que em 2012 os Simple Minds preferissem desfilar o repertório dos "stadium years", mas o conceito da digressão que os traz a este Coliseu perto de cheio não responde à solução fácil: o grupo propõe-se interpretar 5 canções de cada um dos seus primeiros 5 álbuns, precisamente os 5 discos anteriores ao sucesso mais pronunciado: Life in a Day (1979), Real to Real Cacophony (1979), Empires and Dance (1980), Sons and Fascination/Sister Feelings Call (duplo álbum, 1981) e New Gold Dream (1982).

É este o legado dos Simple Minds nos quatro primeiros anos de discografia, o tal caminho sustentado de que falávamos antes. É também um percurso marcado pela eclosão do pós-punk e da new wave, temperado a teclados e vocalizações um pouco mais sinistras (e menos pop) do que os êxitos posteriores dariam a conhecer.

Pouco passava das 21h00 quando uma voz anuncia, em português, que o concerto terá um intervalo de 15 minutos. Pouco depois, as luzes apagam-se e sobem ao palco Jim Kerr (voz), Charlie Burchill (guitarra), Mel Gaynor (bateria), Ged Grimes (baixo) e Andy Gillespie (teclados) - os dois primeiros estão no grupo desde o início; o baterista desde 1982.

O início tem aquela cadência hi-nrg de "I Feel Love", de Donna Summer, que hoje associaríamos também ao punk-funk; é "I Travel", primeiro single do escuro Empires and Dances (1980), de que se ouve logo a seguir "Today I Died Again", mais próximo do gótico do que da new wave. Do mesmo álbum escutaremos, mais à frente, a igualmente tortuosa "Celebrate", de uma era em que os Simple Minds tinham tanto de Bauhaus como de O.M.D., bandas contemporâneas que seguiriam, contudo, em direcções distintas.

Em palco vemos Jim Kerr, 52 anos, os mesmos tiques do estrelato pop dos 80s, braços erguidos em forma de aeroplano, sem medo da incitação popular (à segunda ou terceira canção já está junto à primeira fila), não raras vezes em posição de súplica (ou mesmo deitado), passes de dança entrelaçados, acenos em várias direções e palmas, muitas palmas, mas também muitos beijos direcionados à plateia (ou não fosse hoje Dia dos Namorados). A voz, projetada com afinco e processada com eco, não compromete um milímetro, a movimentação em palco não é poupada. Como se usa dizer, o homem não está aqui para enganar ninguém.

Do primeiro álbum, Life in a Day (1979), ouve-se a excitante "Someone", canção que lhe dá início, ainda com as guitarras a ganharem tanta proeminência com os teclados e uma toada pop que seria escurecida por aventuras posteriores. Também do disco de estreia, o tema-título que não deslustraria na discografia dos Magazine, teclados cold wave a juntarem-se a riffs de guitarra pós-punk; e a enxuta "Chelsea Girl", novamente com uma pujança rock que não quer ficar atrás da maquinaria desenhada a régua e esquadro (há um solo de guitarra, heresia em 1979).

A meio da contenda não duvidamos de que boa parte do público que acorreu ao Coliseu tem a secreta esperança de ver os Simple Minds furar a dieta auto-imposta e atirar-se a "Don't You Forget About Me" ou "Alive and Kicking", o que não vem a acontecer para bem da coerência (e gabe-se-lhes o facto de não terem cedido à tentação).

Para compensar, New Gold Dream (1982), o álbum de charneira entre os apetites exploratórios do início e a pop plástica de meio dos anos 80, traz dois casos de reconhecimento instantâneo: "Promised You a Miracle" e "Someone Somewhere in the Summertime", canções mais propensas à comunhão geracional (e aqui apontaríamos, de caras, para a faixa etária dos 40 aos 50 e muitos), mas também - na nossa opinião - menos interessantes do que "Love Song" (de Sons and Fascination - 1981), "Changeling" (de Real To Real Cacophony - 1979) ou mesmo a fantasmagórica "Calling Your Name" (do mesmo álbum). Felizmente, todas elas tiveram direito a tempo de antena, no tempo "regulamentar" e no "prolongamento" que se seguiu (um único encore).

Não fizemos as contas, mas terão sido interpretadas as 25 canções prometidas. Êxitos de rádio, praticamente nenhuns - e, valha a verdade, não fizeram falta.

Texto: Luís Guerra
Fotos: Rita Carmo/Espanta Espíritos

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