Sunday, June 26, 2022

Duran Duran 2022-06-26 Expresso, Rock in Rio Lisboa: esfomeados como lobos, os Duran Duran deixaram em Lisboa a pele e o luxo dos anos 80

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Blitz

Rock in Rio Lisboa: esfomeados como lobos, os Duran Duran deixaram em Lisboa a pele e o luxo dos anos 80


26 junho 2022 1:40

Luís Guerra

Luís Guerra

Jornalista

Rita Carmo

Rita Carmo

Fotojornalista


Com mais de 40 anos de história, a banda britânica deu no Rock in Rio Lisboa um enxutíssimo concerto com a melhor pop/new wave dos anos 80 (e algumas pérolas posteriores pelo meio). Sexagenários, os Duran Duran dançaram, fizeram dançar, foram bombásticos e fizeram bombar. Pareceram genuinamente jovens (apesar da rouquidão de Simon Le Bon ter aparecido a meio). (Também) é assim que se faz.

Simon Le Bon, Nick Rhodes, John Taylor e Roger Taylor estão todos nos 60 e tais. Mas a pop é ilusão e os Duran Duran, em palco na noite de sábado da Bela Vista, pareceram uma banda mais jovem (especialmente se formos amigos e fizermos ouvidos moucos a uma certa perda de voz de Simon Le Bon a partir da exigente 'Ordinary World').

Com o património de mais de 40 anos de canções - uma discografia iniciada no homónimo álbum de 1981 -, o grupo de Birmingham cumpriu no Rock in Rio Lisboa dois desígnios: deu ao público tudo o que o levou a comprar bilhete (um sem fim de êxitos imorredouros da pop e da new wave dos anos 80 e início dos 90); mostrou que a longevidade na pop não tem que ser embaraçosa (à semelhança do que, de resto, também demonstraram os noruegueses e também veteranos A-ha, que antecederam Duran Duran no maior palco do festival).

Principiando à hora certa, os Duran Duran não se pouparam e atiraram-se, desde logo, à frenética 'Wild Boys' (bateria de Roger Taylor bem pujante), espécie de teste de força para os 90 minutos que se seguiriam. E manobra para ganhar crédito para duas canções de "Future Past" ('Invisible' e 'All of You', o álbum de 2021 que só os indefetíveis das primeiras filas souberam reconhecer, com o resto da plateia (de perder de vista) a acusar indiferença.

A partir daí, com apenas mais duas visitas ao disco mais recente ('Give It All Up' e 'Tonight United') a entremear o alinhamento, os Duran Duran dedicaram-se à antiga e nobre missão de agradar. Veja-se o luxo: 'A View to a Kill', colheita James Bond 1985, 'Notorious', funk do melhor com o dedo de Nile Rodgers (aquele pequeno riff de guitarra tão, mas tão comestível) via 1986, 'Union of the Snake', do igualmente soberbo ano de 1983. A acompanhar o quarteto-base, um coro de duas vozes femininas, saxofonista e guitarra elétrica.

'Come Undone', vestígio de um início dos anos 90 em que os Duran Duran voltaram a sintonizar-se com as tabelas de vendas, não deslustrou, mas perdeu para uma aprumada 'Hungry Like the Wolf' (primeiro 'sintoma' de "Rio", de 1982, de que se ouviriam outros dignos espécimes mais adiante) e para a bem-vinda recordação de 'Friends of Mine', penúltima canção do álbum de estreia (e uma das poucas canções do alinhamento que não foram single).

A partir de 'Ordinary World' (dedicada ao povo da Ucrânia, "que está a sofrer inexplicável e inimaginavelmente"), Simon Le Bon mostrou uma crescente rouquidão que se refletiu numa menor capacidade em atingir notas altas com o mesmo acerto, mantendo contudo a afinação na maior parte do tempo e incutindo, galhardamente, alguma rudeza mais rock na entrega. Não foi perfeito, mas esteve longe de ser um grande problema. E a aspereza, já perto do final, até deu jeito em 'White Lines', versão de Grandmaster Flash e Melle Mel lançada no mal-amado álbum de versões de 1995.

'Girls on Film', o terceiro single da carreira da banda (e ainda hoje, um portento de concisão new wave), mereceu cruzamento com 'Acceptable in the 80s', de Calvin Harris. A banda saiu depois de cena, mas voltou depressa para um encore, também ele uma 'instituição' de outros tempos em festivais: Simon Le Bon, agora vestindo apenas uma t-shirt com a expressão "courage est au courant" e voltando a pedir orações pela Ucrânia, parece ter tomado meio rebuçado de mentol para 'Save a Prayer'. O final, esse, só podia ser um: 'Rio' (gloriosamente mais 'Pop in...' do que 'Rock in...'), o glamour de 1982 diretamente para um 2022 que ainda não sabemos bem de que terra é, mas pelo menos em Lisboa vem com solo de saxofone.

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